segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Entrevista: Maurício, zagueiro da Lazio

Ninguém consegue sobreviver a clubes como Palmeiras, Grêmio, Sport, Sporting e Lazio - para não citar outros - sem ser bom no que faz, ninguém recebe o prêmio de melhor zagueiro de Pernambuco à toa, ninguém move mais de 10 milhões de reais em uma negociação se não tiver méritos. Maurício tem muitos, e o zagueiro laziale mostrou um pouco disso no nosso bate-papo.

Em parceria com o amigo Cleber Gordiano (do ESPN FC), eu, Lucas Martins, ajudei a produzir essa entrevista exclusiva com o defensor vice-campeão da Coppa Italia 2014-15 e atual titular da Lazio, onde foi possível falar sobre o momento do clube, a rivalidade com a Roma, a arbitragem italiana, o lado tático de um zagueiro, o que pede o técnico Pioli e muito mais. Boa leitura, a outra metade da exclusiva está no já citado blog do Cleber.

Maurício tem sido importante (foto: La Presse)


>>> VEJA TAMBÉM: Entrevista exclusiva com Felipe Anderson


Pergunta:
Como zagueiro, sua função lógica é impedir que o adversário produza ocasiões de gol, é ser sólido. Porém, para você, um defensor deve ser "intuitivo" e fazer o que lhe vem à cabeça para roubar a bola e evitar rapidamente o perigo ou deve buscar respeitar mais sua zona de atuação, sem sair tanto de posição? Em outras palavras, na sua opinião, qual deve ser a referência para a marcação: o rival, a bola ou o espaço?

Resposta:
Aqui na Itália eu tenho evoluído muito taticamente. O treinador cobra muito o posicionamento sem a bola e jogamos em linha avançada. Com esse tipo de jogo, não há muitas situações para ir à frente marcar os atacantes, o time fica compacto e os espaços diminuem. O jogo ideal é cuidar bem do seu posicionamento e antecipar as jogadas quando entender que essa ação não irá desfigurar a formação tática da equipe. Tudo isso deve ser decidido em fração de segundos. Ou seja, você precisa estar com o nível máximo de concentração durante os 90 minutos.

P:
Já há algum tempo, a tendência do futebol mundial é formar zagueiros antecipadores e agressivos, que sejam capazes de diminuir a capacidade de pensamento e as ações de um oponente de maneira ágil. No longo período em que ficou nas categorias de base do Palmeiras, foi possível perceber uma ordem uniforme nesse sentido? E você acha que a sua formação, em si, foi bem feita no Verdão?

R:
O Palmeiras me deu a maior oportunidade da vida. Sou muito grato a tudo o que fizeram por mim. Fui formado como atleta e como pessoa e não tenho do que reclamar. Dentro de campo também tive a atenção necessária em todas as etapas, já que cheguei lá com apenas 13 anos. Em comparação com o método que nós zagueiros jogamos hoje, posso afirmar que as coisas evoluíram. Até mesmo por isso tenho também crescido em posicionamento e passes. O futebol hoje é mais moderno e a posse de bola é prioridade.

Foto: La Presse
P:
O Campeonato Italiano é, tradicionalmente, uma liga de forte contato físico, de "choques" frequentes e firmes disputas corporais. Sendo muito imponente aí, o contexto te favorece? Indo um pouco no caminho oposto, o fato de Pioli atuar com uma linha de defesa bem adiantada, principalmente contra determinadas equipes, tende a prejudicar?

R:
Eu gosto do jogo corpo a corpo, consigo segurar bem os atacantes que atuam assim e na Itália tem bastante disso. O Luca Toni, por exemplo, faz bastante esse tipo de jogo e sempre consigo atuar de forma inteligente nesses momentos. Para atuar como o Pioli gosta (com linhas avançadas), você precisa estar sempre em comunicação com os seus companheiros de defesa. Conversamos bastante entre nós (Basta, De Vrij, Gentiletti, Konko, Hoedt e Radu, por exemplo) para não deixarmos espaço para os atacantes.

P:
Sobre os treinamentos, o que logo te chamou a atenção ao chegar ao futebol europeu? Aqui no Brasil o tempo é mal administrado, se perde muitos minutos fazendo coisas que pouco somam à prática do esporte?

R:
Cada país tem uma metodologia para se jogar futebol. Uma característica. No Brasil, hoje, você percebe um jogo de muita correria. Em Portugal é um jogo mais cadenciado. E aqui na Itália é um jogo com um toque de bola maior. Pensando nisso, cada um tem o seu estilo. No treino não é diferente, temos uma rotina de exercitar a parte física já com bola e isso facilita o aprimoramento também da parte técnica. Na Europa em geral, os treinos são intensos e com carga suficiente para um período. Apenas em algumas situações isso é feito em duas sessões. Mas também deve ser levado em conta que o profissionalismo no futebol é diferente. Aqui se cobra muita mais responsabilidade do atleta fora de campo.

Agradecimento especial a assessoria de Maurício, que mediou a entrevista.


A outra parte da entrevista está disponível no Lazialíssimo, blog do Cleber Gordiano.

domingo, 18 de outubro de 2015

No Derby d'Italia, tempos distintos e uma grande partida

Disputado neste domingo (18), no estádio Giuseppe Meazza, o Derby d'Italia era o embate mais aguardado da rodada 8 de Serie A - ao lado do ótimo confronto entre Napoli e Fiorentina (2 a 1). Sem decepcionar, Inter e Juventus fizeram uma partida realmente boa, de tempos diferentes. Ao final do encontro, um 0 a 0 no placar resumiu de forma completamente errônea o que foi o duelo.

Tensão também esteve presente (foto: Reprodução)

Sem Fredy Guarín, Alex Telles e Geoffrey Kondogbia, Roberto Mancini deixou de lado seu tradicional 4-3-1-2 (com ou sem a bola) e passou a um 4-4-2 (também inalterável nas duas fases). Alterando variações, comandante logicamente levou maior parte dos mecanismos no mesmo pacote. A começar por desenho de saída, modificado para algo muito menos detalhado, onde maior ordem aparente era realizá-la por fora. Assim, Inter teve iniciais dificuldades para se estabelecer na metade rival, tendo lentidão e passes demasiadamente horizontais ao tentar levar bola à frente - depois, com extremos recuando mais, isto melhorou. De qualquer forma, após atingir campo oponente - ocorreu bastante dos primeiros 20' em diante -, Stevan Jovetic brilhou. Como sempre, oferecendo apoios, facilitando ataques, utilizando onipresença para desequilibrar.

Muito auxiliado por Ivan Perisic e Marcelo Brozovic, montenegrino prolongou estadias na metade bianconera e ainda produziu ocasiões de gol. Na fase defensiva, nerazzurri foram sólidos, apresentando destacável nível de energias, coordenação, Gary Medel, Felipe Melo e dupla de zaga. Levando em conta que principal objetivo ofensivo da Juve era contragolpear, mandantes impediram finalização destes contra-ataques com vitalidade e dois laterais presos (em geral, só o oposto à jogada não avança); ao juntar gente atrás, organização, movimentos bem feitos e citado vigor para negar espaços, gerar vantagens numéricas ao redor da esfera e roubá-la. Em suma, ainda que não tenha estado perfeita, permitindo cinco chutes à Juventus e só acertando meta de Gianluigi Buffon uma vez, Inter dominou e controlou 1º tempo por longos períodos. Foi superior.

No 2º, contudo, conjunto de Massimiliano Allegri igualou lado energético, fincou sua bandeira na parte adversária e ativou Juan Guillermo Cuadrado. Em meio à isto, time de Mancini inicialmente alternou diminuição de ritmo e aceleração - com Jovetic e Ivan - ao ter posse, mas já cedendo bastante defensivamente. Força física caiu, permissões subiram e superioridade da outra etapa sumiu em minutos. Aspectos simbolizados em Perisic, que, retornando lentamente para fechar flanco canhoto, comprometeu Juan Jesus inúmeras vezes, quase dando triunfo aos de Allegri. Nerazzurri sobreviveram de tal maneira até apito final, salvando-se por sorte e Samir Handanovic.

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Cenário no começo do confronto

Juventus compôs um 3-5-2 (sem a posse, com Juan Cuadrado livre do retorno, 4-4-2) bem semelhante ao que derrotou o Sevilla, por 2 a 0, pela Liga dos Campeões. Ostentando má execução do planejamento nos iniciais 45', atuação foi de menos a mais e terminou melhor. Almejando postura reativa na 1ª etapa, Allegri recuou atletas, segurou linhas de marcação ora médias, ora médio-baixas e tentou sair rapidamente ao ter a bola. O que até ocorreu em alguns instantes, mas em boa parte dos minutos duas coisas essenciais estiveram em falta: vigor defensivo para realizar desarmes e um contragolpe planificado. Sem estes dois elementos, acaba sendo duríssimo alcançar êxito dentro da postura escolhida por Massimiliano. Por qualidade dos zagueiros, sofrer atrás esteve longe do vocabulário juventino. Porém, empatar era pouquíssimo.

Também pesando negativamente na balança, equipe de Turim foi incapaz de se manter tanto em solo interista. Mas volta para 2ª parte trouxe um conjunto enérgico, que fez jogo ocorrer em seus metros de ataque e conectou Cuadrado para criar. Evoluíram Álvaro Morata, Simone Zaza (ambos por mobilidade), Claudio Marchisio (critério nos passes, controle oferecido), Sami Khedira (por ativar Cuadrado, manter balão à frente), Paul Pogba (somou à criação de jogadas) e Juventus comprou domínio. Ao localizar exposição de Juan, tratou de acumular jogadores no setor e ter uma fluidez outrora inimaginável. Foram absurdas dez finalizações no 2º tempo, quatro na direção correta e uma na trave. Nem havia margem tão elevada a qualquer ação ofensiva da Inter, partida era da tetracampeã. Seguiu sendo até encerramento, mas sem monetização.

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Panorama final

Desfavorável aos dois, empate foi resultado mais justo possível, não deixando de resumir temporada da dupla. Mas, além de tudo, enfrentamento mostrou que Serie A está de volta, que as grandes noites de futebol retornaram à Itália. Ou tardes, ou manhãs. Isso pouco importa, a questão é que novamente existem vários detalhes a tirar na Bota, que liga mantém alto nível.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Em confronto recheado de detalhes, Monaco e Lyon ficam no empate

Nesta sexta-feira (16), Monaco e Lyon abriram a 10ª rodada da Ligue 1, cuja partida mais esperada era justamente a supracitada. Oscilantes nesta primeira parte de temporada, as equipes mostraram muitos detalhes interessantes - para o bem e para o mal -, ainda que vários já sejam conhecidos há um tempo considerável. No final, empate em 1 a 1 e confirmação de sensações.

Confronto foi duro (foto: Reprodução/L'Equipe)

Optando por um 4-3-3 (4-1-4-1 na fase defensiva), Leonardo Jardim apresentou, já no começo, sinais do que buscaria, algo que seu mais habitual 4-2-3-1 (4-4-1-1 sem a bola) dificilmente faria tão bem. Tendo Jeremy Toulalan zagueiro e João Moutinho como "5", monegascos tentaram impedir fluidez do Lyon desde iniciais movimentos oponentes, enchendo centro e, com blocos de marcação entre algo médio e médio-alto, negando série de mecanismos ofensivos de Hubert Fournier em sua concepção. Pois, mesmo que laterais visitantes avançassem para puxar pontas do Monaco e abrir caminho aos recuos de meio-campistas ou conduções de zagueiros, Mario Pasalic, Thomas Lemar e Lacina Traoré tratavam de quebrar inferioridade numérica (5x3) com noção espacial, bela tomada de decisões e entrega ao planejamento - dizendo muitos "nãos".

Quando isto não era suficiente e bola chegava ao campo mandante, ordem era retornar rapidamente, almejando conjunto mais denso, que cedesse menos. De tal maneira, pesando determinados instantes em que embate abriu-se - serviram para gerar ocasiões aos de Jardim - e contexto passou a ser de contragolpes, quase tudo esteve nas mãos monegascas na 1ª parte. Obrigando forasteiros a manter posse inútil (65% no 1º tempo, só uma finalização certa), protetores de Danijel Subasic cumpriram papel com sucesso, deixando tramas distantes do arqueiro croata. De extremamente negativo, velha falta de engrenagens de ataque, o que diminui apoios, faz bola rodar com menor critério e coloca individualidades como principal argumento na caçada por espaços. Sem Anthony Martial e possuindo inúmeros jovens, é bastante ruim.

No 2ª metade, descontando um primeiro momento em que Lyon empurrou mais, cenário era relativamente parecido e a vitória parecia questão de minutos. Mas ela começou a cair aos 21, quando Wallace foi expulso, fazendo Monaco plantar seus restantes dez homens perto da grande área, atraindo rival de qualidade. Até demorou, mas, como no tento do conjunto de Bernardo Silva, a casa desmoronou "do nada" e tudo acabou. Um empate que deixa pontos bons e ruins.

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Algumas situações do 1º tempo

Realizando manutenção dos ideais de Fournier, Lyon formou seu usual 4-3-1-2 (com ou sem a posse). Desde o início, como costuma ser, ordem foi reter esfera, controlar a partir dela, alongar ataques, tranquilizar coisas e se estabelecer na metade de campo adversária à sua maneira, com vantagens e boas opções à disposição. Para tal, muito passa pelos laterais (Christophe Jallet e Rafael), sempre perto da linha lateral e bastante adiantados - durante saída, para fixar extremos oponentes e dar terreno a companheiros que iniciarão jogadas; após estabelecimento no campo rival, para dar largura e "abrir" blocos de marcação. No 1º tempo, entretanto, apesar de ambos terem feito o que se pediu, eles pouco pesaram no contexto. Outro dueto minimizado por ações do Monaco foi Mapou Yanga-Mbiwa e Samuel Umtiti, impossibilitados de conduzir tanto.

Assim, fase ofensiva do Olympique foi infrutífera, fora uma ou outra trama armada em um contra-ataque. Para fazer isto, inclusive, Fournier se propôs a defender com apenas sete atletas, liberando trio mais ofensivo para criação e execução dos contragolpes, sob liderança do eternamente vertical Mathieu Valbuena. Terminados os primeiros 45', placar era desfavorável e contexto nada animador, faltando "pontes" a conectar coletivo. Na volta para a outra etapa, se pôde ver mudanças posicionais, um time de ações mais velozes, com melhor distribuição no relvado, que atingiu parte do objetivo e fez Monaco recuar por uns minutos. Tal panorama mudou logo após, mas regressou com expulsão de Wallace e perdurou até último apito do árbitro. Neste espaço, Rafael aproveitou superioridade futebolística vinda do "abafa" e marcou o gol de empate.

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Cenário final

Pelo resultado, em si, Monaco e Lyon saem sem ter muito a comemorar na rodada. Ambos seguem distantes do líder PSG, uma possível luta pelo título da liga não está nos planos imediatos. Todavia, considerando questões apresentadas neste ciclo 2015-16, futebol praticado hoje e projetos, há esperança de coisas melhores. O futuro tende a ser superior.